sexta-feira, 2 de novembro de 2007

Mudanças no uso do FGTS devem forçar bancos a cortar taxa

As mudanças nas regras de uso do dinheiro do FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de Serviço), na opinião de especialistas, elevam a competição e estimulam os bancos privados e públicos a concederem financiamento com taxas menores à classe média, que até então só tinha acesso ao dinheiro captado pela poupança --com juros maiores, hoje de 11% a 12% ao ano mais correção pela TR. Segundo eles, as medidas são novo fator a impulsionar o aquecimento do setor imobiliário, que vive o início de um boom.
Para Miguel Oliveira, vice-presidente da Anefac (Associação Nacional dos Executivos de Finanças Administração e Contabilidade), apesar de adicionar ainda um volume pequeno de recursos, a medida aumenta a concorrência no crédito imobiliário.
"Possibilita àquele que queria comprar um imóvel mais caro, mas não podia, ter acesso a um juro mais baixo. De alguma forma vai provocar um pouco a competição, porque Bradesco, Santander, HSBC e ABN, que estão entrando pesado no crédito habitacional, vão ter de oferecer, em algum momento, redução nas taxas de juros para competir."
Segundo Oliveira, não dá para dizer que a medida aumenta o acesso da Caixa Econômica à classe média. "Do ponto de vista da Caixa, não tem muita diferença. Como ela é grande captadora de poupança, já emprestava para a classe média, só que com um custo mais alto."
Como há hoje um "monopólio" da Caixa na administração do FGTS, os bancos públicos e privados também pleiteiam repassar recursos do fundo para financiar imóveis. Os bancos são todos habilitados, mas nenhuma instituição financeira ainda repassa esse dinheiro.
Restrições
Para a Abecip (associação das entidades de crédito imobiliário), a medida anunciada ontem "é vista com restrição", pois "poderá concorrer com os produtos que os bancos oferecem" pelo SFH (Sistema Financeiro da Habitação) com recursos da poupança.
No SFH, que segue as linhas gerais da política habitacional brasileira, os bancos financiam aquisição de imóveis de até R$ 350 mil com juros que variam de 8% a 12% mais a correção pela TR, podendo o mutuário utilizar ou não recursos de sua conta no FGTS para fazer abatimentos. Nesse segmento, foram emprestados R$ 12,18 bilhões de janeiro a setembro deste ano com recursos da poupança, volume 81,03% superior ao do ano passado.
Esse montante permitiu a concessão de 135,3 mil financiamentos no ano. Já o FGTS concedeu empréstimos de R$ 5,199 bilhões para 202 mil mutuários no mesmo período.
Luiz Carlos Mendes Iglesias, responsável por produtos de crédito imobiliário do Banco Real, afirma que os juros do FGTS são menores do que os disponíveis hoje para a classe média, mas o volume de R$ 1 bilhão destinado a partir de 2008 ainda não tem capacidade de mexer com o mercado, que terá lançamentos da ordem de R$ 30 bilhões em 2008.
Para João Claudio Robusti, presidente do Sinduscon-SP, as mudanças são bem-vindas, mas só farão diferença no combate ao déficit habitacional quando atingir as classes C e D, que hoje concentram quase a totalidade do déficit habitacional, estimado em mais de 9 milhões de residências. "Queremos desenhar um modelo de habitação de interesse social, para imóveis de até R$ 50 mil e R$ 60 mil, que depende de articulação ampla, de desoneração fiscal e até subsídios."
Fonte: TONI SCIARRETTA da Folha de S.Paulo

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