domingo, 10 de fevereiro de 2008

Presidente da Abramat

Uma provável recessão na economia norte-americana, amplamente discutida por analistas, deverá causar sérios impactos no setor financeiro mundial. A dimensão dessa crise, no entanto, ainda é incerta. A principal questão levantada por executivos em todo o mundo é saber qual será o reflexo da conjuntura nos Estados Unidos à chamada economia real, formada por indústrias, varejistas, agricultores, consumidores, entre outros segmentos.
Seja qual for a dimensão da crise na maior economia mundo, o setor da construção civil mantém o otimismo no Brasil e prevê crescer na casa dos dois dígitos em 2008, após registrar um crescimento de 15,5% no faturamento com as vendas ao mercado interno no ano passado. Para o presidente da Associação Brasileira das Indústrias de Materiais de Construção (Abramat), Melvyn Fox, o setor continuará sendo beneficiado pelo bom momento do segmento habitacional.
Formado em Administração de Empresas pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) e presidente da Abramat desde 2005, Fox acredita que a receita da indústria de materiais de construção manterá o ritmo de expansão ao longo dos próximos anos. 'Acreditamos que, pelo menos até 2010, o setor continuará crescendo acima da expansão do Produto Interno Bruto (PIB) nacional', destaca. Para 2008, o executivo projeta uma expansão de 12% no faturamento dos fabricantes de materiais de construção, setor que movimentou R$ 79,9 bilhões no ano passado e poderá chegar próximo de R$ 100 bilhões ao final do segundo mandato do governo Lula.
Em entrevista exclusiva à InvestNews, Fox mostrou seu otimismo com o setor, que registrou em dezembro sua 20ª expansão mensal consecutiva, e descartou que o crescimento da construção nacional possa ser comparado a um vôo de galinha, como ocorria no passado.
InvestNews - Após anos de tentativa, o setor finalmente encontrou o caminho para um crescimento sustentável?
Melvyn Fox - A comparação do setor com o vôo de uma galinha, não sustentável, não se justifica mais. A sensação do vôo da galinha acontecia quando o crescimento não durava mais do que seis meses. Hoje, já registramos 20 meses consecutivos de expansão. No passado não existiam ações que sustentavam esse movimento, mas hoje temos fôlego para isso. O País tem um enorme déficit habitacional e temos um grande número de consumidores que esperavam um favorável para ter sua casa própria.
InvestNews - Esse movimento de crescimento não poderia ser prejudicado pela provável recessão da economia dos Estados Unidos?
Melvyn Fox - Acredito que a situação nos Estados Unidos pode afetar um setor de duas maneiras. Uma é gerando uma crise generalizada na economia mundial, o que afetaria a construção civil. Para isso, no entanto, é importante saber qual será o tamanho da crise e qual o impacto dela na economia. A outra seria de forma direta, com a redução das exportações. Nesse ponto, no entanto, a construção civil seria pouco afetada. A participação das exportações no faturamento da indústria de materiais de construção, por exemplo, é de apenas 8%, dos quais menos da metade é representada pelas vendas aos Estados Unidos. Tanto é que anunciamos uma projeção de crescimento de 12% para o setor e a mantivemos inalterada.
InvestNews - Mas não há a preocupação de que a crise no mercado de crédito norte-americano crie um cenário de incertezas também no Brasil?
Melvyn Fox - A situação do crédito nos Estados Unidos poderia afetar o setor se houvesse uma alteração na política de redução da taxa de juros no Brasil. No ano passado, a construção civil aproveitou a disponibilidade de recursos no mercado e a redução nos juros. Acredito que o maior agravante para nosso setor seria uma desaceleração no ritmo da queda ou até mesmo uma 'não queda' dos juros, o que esperamos que não aconteça.
InvestNews - O Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) também será um motor do setor em 2008?
Melvyn Fox - Acredito que não. O crescimento da construção civil será sustentado no segmento da habitação, como houve em 2007. Nossa projeção de crescimento de 12% para 2008 é fundamentada basicamente na expansão dessa área. Mas se tivermos obras de infra-estrutura saindo do papel, acredito que o setor poderá registrar um crescimento até maior do que os 12% projetados, próximo da marca do ano passado [que foi de 15,5%].
InvestNews - Já é cedo fazer uma projeção do setor para o médio prazo?
Melvyn Fox - Projetamos que o setor continuará crescendo nos próximos anos. Para 2009, esperamos uma expansão de 8% a 10%, mais próxima dos 10%. Já para 2010, o crescimento deverá ficar entre 6% e 8%, mantendo-se, portanto, acima da expansão do PIB.
InvestNews - E a indústria está preparada para atender a este aumento da demanda?
Melvyn Fox - A indústria não está parada. Tem investido bastante em ampliações de capacidade e, em 2008, deverá estar apta a atender a demanda, de forma geral, além de se preparar para o cenário futuro. O aumento da demanda não deverá refletir em aumento de preços.
InvestNews - Se a oferta está garantida, qual a principal preocupação do setor no momento?
Melvyn Fox - A falta de mão-de-obra qualificada. Hoje temos em torno de 4 milhões de pessoas trabalhando no setor de edificação, mas ainda é uma mão-de-obra sem especialização. O analfabetismo atinge aproximadamente 20% e quase 50% dos empregados não concluíram o primeiro grau. Por conta disso, o salário médio desses trabalhadores é de apenas dois salários mínimos.
InvestNews - E como isso será feito?
Melvyn Fox - Intensificamos neste mês um projeto junto ao Governo Federal para a criação de um sistema nacional de capacitação e certificação de mão-de-obra. Queremos valorizar nossa mão-de-obra. O setor evoluiu tecnicamente, mas nossos funcionários não acompanharam este avanço.
InvestNews - Há um cronograma para este projeto sair do papel?
Melvyn Fox - Queremos definir os traços deste projeto ainda este mês e, em março, definir em qual ministério ele implantado. Ainda não foi decidido se ele será desenvolvido pelo Ministério das Cidades, da Educação ou do Trabalho. Nossa meta é iniciarmos algum projeto piloto ainda ao longo deste ano.

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