segunda-feira, 24 de março de 2008

Sem incentivo, falta interesse em economia de água

A Agência Nacional de Águas (ANA) afirma que 63% do consumo de água residencial ocorre no banheiro. E substituir torneiras, chuveiros e sanitários por itens que diminuam a vazão da água pode reduzir pela metade o consumo residencial. A Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp) estimula a troca com informações aos interessados, porém não prevê nenhum incentivo financeiro a quem adere à iniciativa. Com isso, a adesão dos usuários residenciais acaba sendo baixa. Por mês, apenas três condomínios procuram o Programa de Uso Racional da Água (Pura), promovido pela Sabesp, para se adequar a uma redução no consumo.A bacia sanitária e o chuveiro consomem juntos mais da metade de toda a água gasta em uma residência. Segundo o Programa de Uso Racional da Água (Pura), promovido pela empresa de saneamento urbano de São Paulo (Sabesp), a troca de uma torneira convencional por uma com restritor de vazão diminui em até 70% o consumo.
Consultor em programas de uso racional da água, o engenheiro Paulo Costa afirma que a falta de uma política de racionalização do consumo reflete a pouca pressão que a sociedade exerce quando o assunto é economia de recursos hídricos. "O poder público só se mexe quando a sociedade cobra atitudes concretas, como um incentivo direto à economia de água", afirmou.
Programas de incentivo à troca de equipamentos hidráulicos domésticos foram aplicados com sucesso em cidades como Nova York, onde 1,3 mil bacias economizadoras foram instaladas, diz o consultor. "A prefeitura pagou uma soma em dinheiro para cada sanitário convencional comprovadamente substituído por um com bacia economizadora", afirmou Costa. Um sanitário convencional gasta, de acordo com ele, de 12 a 15 l de água a cada acionamento. Um equipamento dos novos, metade disso: 6 l. Resultado: bairros como o Harlem reduziram em 50% o consumo doméstico.
Um acordo entre a Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) firmado com as empresas fabricantes de itens sanitários como vasos e torneiras em 2003, prevê que todos os vasos produzidos a partir desta data tenham o dispositivo economizador. O problema é que apenas as residências recém construídas ou reformadas acabam optando pelos equipamentos mais modernos. Bancar a troca não é barato: uma torneira eletrônica pode custar R$ 500 pelo preço de catálogo.
Tantos empecilhos e a falta de incentivo do governo tornam pouco atraente a opção por um consumo sustentável de água. Os gastos com água são a segunda maior despesa dos condomínios, perdendo apenas para despesas com pessoal, segundo a ANA. Apesar disso, a adesão a programas de racionamento acaba sendo exclusivammente de imóveis públicos como hospitais, parques, escolas e repartições.
Um dos casos de maior sucesso, segundo a Sabesp, é o da escola Estadual Fernão Dias Paes, na zona leste de São Paulo, que reduziu em 94% seu consumo de água. Antes da aplicação no Pura, gastava R$ 37.440,00 por mês em água. Hoje, a conta é de R$ 2.250,00, o retorno do investimento de R$ 5.130,39 na troca dos equipamentos aconteceu em cinco dias.

Desperdício de 40%
Mas o problema do desperdício é mais amplo. Segundo levantamento do Ministério das Cidades, antes mesmo de chegar ao consumidor, 39,8% da água produzida é desperdiçada. Isso se deve, entre outros fatores, à idade e ao estado precário da tubulação urbana."Seria necessária a substituição de todo o sistema em São Paulo, mas é uma obra cara e que renderia poucos votos", diz o técnico em geologia do Centro de Pesquisa de Águas Subterrâneas da USP, Fernando Augusto Saraiva.

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