sexta-feira, 21 de novembro de 2008

Entrevista com vice-presidente da Tigre

A Tigre, de Joinville (SC), ganhou robustez em 2008 para enfrentar a concorrência que se acirrou muito nos últimos anos com a entrada e a expansão no Brasil da mexicana Mexichem e da belga Aliaxis. A companhia assegura ser líder no mercado de tubos e conexões no Brasil, com mais de 50% de participação e está trabalhando para permanecer nesta posição 'por muitos e muitos anos', afirma o vice-presidente da empresa, Evaldo Dreher, que se prepara para assumir a presidência em março do próximo ano, no lugar hoje ocupado por Amaury Olsen.

Segundo Dreher, que está na companhia há 12 anos, '2008 foi o melhor ano da história da Tigre'. A companhia ampliou a capacidade produtiva em 30% e investiu US$ 70 milhões em desenvolvimento de produtos, atualização tecnológica e aumento de produção. Lançou uma marca nova, a Plena, de acessórios para banheiro, lavanderia, áreas externas. Construiu três novas unidades no exterior, na Colômbia, no Equador, e nos Estados Unidos e fez uma aquisição no Peru. No Brasil, inaugurou fábrica de acessórios em Pouso Alegre (MG) e conclui em dezembro, em Escada (PE), a última fábrica prevista em seu plano de expansão.

A Tigre fecha o ano em 10 países com 18 fábricas e 5,4 mil funcionários, sendo 1,2 mil no exterior. Vai encerrar o atual exercício com crescimento de 20% e faturamento bruto superior a R$ 2 bilhões. Para 2009, prevê investimentos de R$ 100 milhões, sem contar as aquisições, e incremento de 6% em vendas. O passo seguinte será a entrada nos mercado mexicano e da América Central. O plano é antigo e a empresa está atenta às oportunidades.

Gazeta Mercantil - Como é a divisão da receita da Tigre no Brasil e no exterior?

Evaldo Dreher - Embora o faturamento consolidado no Brasil seja maior, representa cerca de 75%, foi no exterior que a empresa obteve o maior crescimento em 2008, de 50%. Nosso desempenho está alicerçado no da construção civil, que apresenta crescimento importante desde 2006. Também somaram os resultados das novas unidades implementadas na Colômbia, no Equador, Estados Unidos e no Peru.

GZM - Em que fase está o projeto da entrada da Tigre no mercado mexicano e da América Central?

Evaldo Dreher - São dois mercados que nos interessam. Já fizemos algumas tentativas e tivemos algumas oportunidades, mas estamos aguardando o momento adequado para concluir as negociações. O México, por estar muito próximo dos Estados Unidos sofreu bastante este ano. Na América Central ainda não encontramos uma empresa que possa ser adquirida e não temos definido onde poderíamos instalar uma fábrica.

GZM - O projeto no México fica em suspenso por causa da crise internacional?

Evaldo Dreher - Não, estamos atentos às oportunidades. Acompanhamos México e América Central atentamente e quando surge alguma oportunidade, nós avaliamos.

GZM - A dificuldade maior em se estabelecer nestes mercados está no preço ou na escassez dos imóveis?

Evaldo Dreher - No México, a entrada tem que ser por meio de aquisições. Fizemos algumas negociações, mas não chegamos a um acordo sobre valores. O negócio é bom dentro daquilo que você pode pagar e que tem que dar retorno. Tivemos oportunidades e entendemos que os valores não eram adequados e nem o momento era oportuno.

GZM - E na América Central, como a empresa pretende entrar?

Evaldo Dreher - Na América Central as empresas são menores e provavelmente a decisão será de uma operação nova, chamada de greenfield (construída a partir do zero). Estamos avaliando benefícios, custos de construção e de terrenos. O projeto não está pronto.

GZM - Quais países são os mais visados na América Central para a instalação desta fábrica?

Evaldo Dreher - A Guatemala porque é um mercado grande e um país com população consumidora importante.

GZM - Como a Tigre avalia a entrada de novos concorrentes no setor, como a Mexichem e a Aliaxis nos últimos anos?

Evaldo Dreher - Sempre tivemos concorrência e a vinda de fora de grupos fortes ajuda a consolidar o mercado brasileiro. Somos líderes absolutos e estamos trabalhando para permanecer nesta posição por muitos e muitos anos.

GZM - Quanto a Tigre tem de participação no mercado brasileiro?

Evaldo Dreher - Não há uma aferição formal neste segmento que indique com exatidão a representação no mercado. Fazemos um levantamento sobre o volume consumido de matérias-primas, entre eles a resina e o PVC, e chegamos a um número aproximado. Com base nisso, sabemos que a Tigre tem mais de 50% no mercado brasileiro.

GZM - Qual a participação da Tigre no mercado latino-americano?

Evaldo Dreher - Somos líderes na maioria dos países onde estamos como Paraguai, Bolívia, Chile e Argentina. É lógico que não temos a liderança onde estamos começando as atividades, como Equador, Colômbia e Peru.

GZM - Os investimentos anunciados de US$ 70 milhões para este ano vão se concretizar?

Evaldo Dreher - Vamos implementar 100% dos investimentos previstos para 2008. Temos um ainda em curso, uma fábrica em Escada (PE) que será concluída até dezembro. O montante foi absorvido no desenvolvimento de novos produtos, atualização tecnológica e aumento de capacidade e não considera as aquisições. Os recursos são 30% de capital próprio e 70% financiados por vários bancos.

GZM - Vocês abriram uma unidade nos Estados Unidos? Como a crise afetou o seu desempenho?

Evaldo Dreher - De todas as operações que temos no exterior, a dos Estados Unidos é a que enfrenta as maiores dificuldades e está sofrendo muito. É uma operação pequena de produção de conexões, mas podemos sentir que a crise é bastante intensa. Estamos realizando 70% das vendas previstas para 2008.

GZM - Qual a perspectiva para esta unidade?

Evaldo Dreher - Assim como todas as empresas que estão nos Estados Unidos, vamos nos ajustar ao tamanho do mercado atual e crescer na medida em que a situação comece a melhorar.

GZM - E no resto do mundo, especialmente na América Latina, como a crise impacta na empresa?

Evaldo Dreher - Cada país tem um cenário um pouco diferente perante a crise. Até agora todas as unidades de fora apresentaram crescimento importante e resultados muito bons. Poderá haver alguma redução nestes últimos dois meses, mas o ano de 2008 está garantido.

GZM - E a partir de 2009?

Evaldo Dreher - A expectativa está baseada no crescimento do PIB de cada país, que está sendo reavaliado. Estamos acompanhando a situação e fechando nosso orçamento para 2009 com previsão de crescimento em torno de 6%. Temos um mix de produtos com mais de 5,8 mil itens e esperamos que principalmente os projetos de infra-estrutura, previstos pelo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), continuem sendo executados.

GZM - Como se divide o mercado de tubos de PVC para a Tigre?

Evaldo Dreher - Temos a parte da construção civil predial, que representa 75% do faturamento e a de infra-estrutura que responde pelos outros 25%. Dentro da construção civil, há a construção industrializada, representada pelas grandes construtoras, como as que fizeram IPO e têm grande número de obras, e a autogerida. A autogerida são as construções menores e reformas.

GZM - Quanto a empresa pretende investir em 2009?

Evaldo Dreher - R$ 100 milhões em inovação desenvolvimento de novos produtos. O valor não contempla aquisições.

GZM - Alguma nova fábrica prevista?

Evaldo Dreher - Temos uma ainda em construção que vai ficar pronta em dezembro, no município de Escada (PE). Produz tubos e conexões e está mais voltada para o mercado de infra-estrutura.

GZM - Qual a perspectiva para o mercado da construção civil no Brasil para 2009?

Evaldo Dreher - O mercado da construção civil poderá sofrer um pouco com este novo cenário, mas vai permanecer em crescimento, tanto é que contemplamos um crescimento de 6% no nosso orçamento do próximo ano. Há um importante conjunto de medidas de apoio ao crédito sendo implementadas pelo governo junto ao Banco do Brasil e a Caixa Econômica Federal. A decisão de manter a taxa Selic na última reunião do Copom também foi muito positiva. Hoje há muitos imóveis em construção e o governo tem a preocupação de manter as linhas de crédito para que eles possam ser comercializados.

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