segunda-feira, 3 de novembro de 2008

Material de construção deve continuar caro, apesar da crise

Apesar do receio de desaquecimento econômico no Brasil, o preço dos materiais de construção deve continuar alto nos próximos meses, segundo a Associação Nacional dos Comerciantes de Material de Construção (Anamaco). "Muitas pessoas estão no meio da reforma da casa e elas não vão deixar de comprar porque o produto está caro", diz Hiroshi Shimuta, diretor da Anamaco.

A demanda mais forte, segundo ele, vem dos materiais de base, como cimento, aço, areia e tijolo. O índice da Associação Brasileira da Indústria de Materiais de Construção (Abramat) confirma a tendência. Em setembro, as vendas de materiais de base cresceram 38,8% em relação ao mesmo período do ano passado. Já a comercialização de materiais de acabamento cresceu 7,46% na mesma comparação.

Resultado deste cenário é que a demanda aquecida esgotou os estoques de cimento da indústria, no início de outubro, de acordo com Sindicato do Comércio Varejista de Materiais de Construção, Maquinismos, Ferragens, Tintas, Louças e Vidros de São Paulo ((Sincomavi). "A dificuldade do mercado de material de construção começou a partir das grandes obras. Mas quando falo disso, falo de cimento", afirma Reinaldo Pedro Correa, presidente do Sincomavi.

A Abramat estima que o ritmo de crescimento atual siga até o segundo semestre de 2009. "Muitas obras estão no começo e ainda há muitos materiais de acabamento que necessariamente serão consumidos", diz Melvyn Fox, presidente da entidade.

Ele afirma, contudo, que não haverá falta de produtos de acabamento como ocorreu com o cimento. "As indústrias investiram muito em ampliação da capacidade produtiva e não há nesse momento falta de materiais de construção", afirma.

Preços

Para o consumidor, a demanda se reflete na alta dos preços. Os materiais de base foram os principais responsáveis na elevação nos preços em 2008, medidos pelo Índice Nacional do Custo da Construção (INCC) calculado pela Fundação Getúlio Vargas (FGV). Em outubro, o INCC apresentou inflação de 0,85% em relação a setembro, quando cresceu 0,94%.

Os preços de materiais elétricos e acabamentos em metais como aço e cobre também podem subir nos próximos meses, segundo Fox. "O dólar valorizado gera um custo maior em insumos que dependem de commodities", afirma. Segundo Shimuta, o risco de aumento será maior se a cotação do dólar permanecer alta por muito tempo e chegar aos combustíveis e afetar o preço dos transportes. "Metade dos nossos custos estão relacionados ao transporte, porque o nosso produto é muito pesado", diz. Segundo ele, alguns itens já estão sofrendo reajuste de 6% a 10%, por causa do dólar.

Medidas

Na semana passada, o governo anunciou a criação de uma nova linha de financiamento do capital de giro das empresas de construção civil. O objetivo da medida é conter o desaquecimento do setor, que é um grande empregador.

A linha será formada por meio da liberação de 5% dos depósitos da caderneta de poupança e poderá atingir R$ 11 bilhões. Hoje, os bancos têm de destinar 65% dos depósitos da poupança ao crédito imobiliário. A partir de agora, 5% entre os 65% poderão ser usados para financiar as construtoras. A decisão dependerá dos bancos. A Caixa Econômica Federal antecipou que oferecerá R$ 3 bilhões para cobrir custos de construção e compra de carteira de recebíveis das empresas.

A Abramat apóia as medidas anunciadas pelo governo para fortalecer o setor. Mas Fox diz que ainda seria necessário um auxílio para o cliente final. "Achamos importante dar prazo a esse consumidor com ampliação de prazo, mais recursos disponíveis e redução da taxa de juros", diz. Segundo Shimuta, a construção auto-gerida, em que o próprio cliente faz a reforma ou o "puxadinho", representa 60% das vendas do setor.

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