segunda-feira, 14 de julho de 2008
Morar está até 20% mais caro
A comida não é o único item de primeira necessidade que ficou mais caro nos últimos tempos. O preço da moradia em Curitiba, que por vários anos esteve entre os mais baixos das grandes capitais brasileiras, subiu até 20% nos últimos 12 meses. A combinação entre demanda aquecida, aumento de custos e recomposição das margens de lucro das construtoras elevou o valor de venda dos imóveis residenciais novos em cerca de 15% nos últimos 12 meses. Para casas e apartamentos usados, a situação é semelhante: o valor de venda subiu 20% desde meados do ano passado, enquanto a locação teve reajuste de 16%.
Os números – divulgados por construtoras, imobiliárias e pelo Instituto Paranaense de Pesquisa e Desenvolvimento do Mercado Imobiliário e Condominial (Inpespar) – refletem um movimento que, na opinião de empresários e especialistas do setor, não deve parar tão cedo. “Os valores tendem a subir em torno de 15% ao ano, e o forte aquecimento deve durar de três a cinco anos”, prevê Luiz Rodrigo Castro Santos, diretor comercial do Grupo LN, que controla construtoras e imobiliárias. Luiz Augusto Brenner Rose, diretor comercial da imobiliária Lopes Dirani, lembra que o índice de financiamento imobiliário ainda é baixo no Brasil. “Há um grande espaço para um crescimento duradouro. Com a procura crescendo mais rapidamente que a oferta, a valorização tende a continuar.”
“As construtoras estavam dimensionadas para outro tipo de financiamento, mais curto, com prestação mais alta. E não tinham o produto que o consumidor passou a demandar, já que, entre o lançamento e a entrega de um prédio residencial, o tempo de espera é de pelo menos dois anos.” José Américo Baggio, diretor da construtora J. A. Baggio
Cresce procura por casas sob encomenda
A dificuldade de se encontrar casas prontas em condomínios horizontais, e o preço elevado dos imóveis novos, está estimulando muitas pessoas a comprar o terreno e bancar a construção.
A avaliação é de Carla Boabaid, gerente comercial da Construtora Best, especializada em construção sob encomenda.
“A procura por orçamentos cresceu de 30% a 40% desde o ano passado”, diz Carla. “Hoje, é muito difícil encontrar uma casa pronta de alto padrão, entre 350 e 600 metros quadrados, por menos de R$ 2,2 mil o metro.
Quem quer construir, por sua vez, pode gastar cerca de R$ 300 por metro de terreno, mais R$ 1,3 mil por metro com a construção em si. Com outra vantagem: a casa ficará do jeito que a pessoa quer.” (FJ)
Para o economista Fábio Tadeu Araújo, da Brain Consultoria, nem o avanço dos juros e da inflação deve reverter essa tendência. “Está havendo um aumento constante dos níveis de emprego e de renda. E, se comparada a outras capitais, Curitiba entrou um pouco mais tarde nesse ciclo de crescimento do mercado imobiliário. Por isso, aqui ele deve ir mais longe.”
Embora muitas construtoras afirmem que oferta e demanda estão equilibradas, ainda há nichos desabastecidos. “É o caso do segmento econômico”, diz Seme Haad Filho, diretor da Construtora Monarca, que neste fim de semana está lançando o condomínio Fit Palladium, na Vila Guaíra, próximo ao shopping recém-inaugurado. A Monarca fechou uma parceria com a Fit Residencial, subsidiária da paulista Gafisa, para explorar esse segmento (cujos preços vão de R$ 55 mil a R$ 200 mil).
José Américo Baggio, diretor da construtora J. A. Baggio, confirma que houve um descompasso natural entre oferta e demanda. “As construtoras estavam dimensionadas para outro tipo de financiamento, mais curto, com prestação mais alta. E não tinham o produto que o consumidor passou a demandar, já que, entre o lançamento e a entrega de um prédio residencial, o tempo de espera é de pelo menos dois anos.”
Considerando-se esse prazo, a oferta de imóveis prontos tende a crescer mais rapidamente a partir de 2009. Isso porque foi no segundo semestre do ano passado que a demanda “explodiu” – e, logo depois, um pelotão de construtoras do eixo Rio-São Paulo invadiu o mercado curitibano. Com dinheiro de sobra, graças a lançamentos de ações na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa), elas firmaram joint-ventures com empresas paranaenses e lançaram uma série de empreendimentos na cidade.
“Hoje, há uma avalanche de alvarás emitidos, com empreendimentos das mais variadas características. Dificilmente faltará oferta”, diz José Vicente Lopes, da Dória Lopes Fiuza Arquitetos Associados. De acordo com o Sindicato da Indústria da Construção Civil (Sinduscon-PR), a área liberada para construção residencial em Curitiba no ano passado foi de 1,7 milhão de metros quadrados – a maior da década, com alta de 49% sobre 2006. O número de apartamentos lançados ficou próximo de 4 mil, mais que o dobro do ano anterior.
Custos em alta
Independentemente da relação entre oferta e demanda, a alta dos custos da construção civil já seria suficiente para elevar consideravelmente os preços das residências. No mês passado, o custo unitário básico (CUB) do metro quadrado em Curitiba saltou para R$ 769,96, com alta de 6% sobre maio e de quase 14% em relação a junho de 2007.
Boa parte da variação foi causada pelo reajuste de quase 10% concedido aos trabalhadores – a mão-de-obra responde por metade dos custos do setor. As empresas também enfrentam, há tempos, a disparada dos preços de materiais de construção. O Índice Nacional da Construção Civil, calculado pela Fundação Getulio Vargas, aponta alta de 6,4% desde o início do ano e de 9,1% nos últimos 12 meses.
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