quinta-feira, 27 de dezembro de 2007

Construção civil planeja crescimento a 10,2% em 2008

O PIB (Produto Interno Bruto) da construção civil brasileira deve continuar crescendo a taxas chinesas no próximo ano, apontou nesta terça-feira o Sinduscon-SP (Sindicato da Indústria da Construção Civil do Estado de São Paulo).

Segundo o presidente da entidade, João Claudio Robusti, o setor crescerá 7,9% em 2007 e 10,2% em 2008.

Com esta perspectiva, a construção civil deve ganhar espaço na formação do PIB brasileiro, que a entidade estima crescer 4,7% em 2007 e 4,8% no próximo ano.

"Devemos passar de 4,5% para 5,5% do total do PIB brasileiro neste ano", disse Ana Maria Castelo, pesquisadora da FGV Projetos que assessora o Sinduscon-SP.

A grande explicação para o desempenho é o crescimento do mercado imobiliário, que surpreendeu até mesmo os empresários do setor. Em compensação, a expectativa sobre os ganhos que seriam obtidos através do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) não foram materializados.

O Sinduscon-SP esperava que o governo federal investisse cerca de R$ 15 bilhões neste ano, e só deve gastar R$ 1,4 bilhão.

"O mercado imobiliário cresceu mais do que esperávamos e o PAC não teve grande efeito", disse Robusti. Mesmo assim, ele estima que os investimentos federais devem dobrar neste ano em relação a 2006.

A expectativa de que os investimentos do PAC deslanchem é um dos motivos para o otimismo da construção civil para o desempenho do setor em 2008.

No mercado imobiliário, espera-se maior demanda causada pelo aumento da massa salarial e do crédito, além da continuidade do efeito da queda nas taxas de juros.

Os dados recentes sobre a indústria de materiais de construção também dão indicações desta alta. O consumo de cimento no acumulado deste ano até setembro, por exemplo, subiu 8,4% sobre o mesmo período de 2006. Nesta base de comparação, as vendas de vergalhão cresceram 12,2% e o emprego na construção avançou 7,4% --com a geração de quase 200 mil novas vagas no país.

Sobre o crédito, Ana Maria disse que trata-se de um "calcanhar de Aquiles". Atualmente o crédito imobiliário atinge 3,5% do PIB --um índice muito menor do que os vistos em outros países emergentes, como o Chile e o México, onde está na casa dos 12%.

"Se quisermos eliminar o déficit habitacional, atualmente em 8 milhões de casas, precisamos dobrar o volume de crédito disponível ao setor", disse.

Otimismo

O cenário colabora para que os empresários demonstrem grande otimismo, como pode ser observado na Sondagem Nacional da Construção, realizada pela FGV (Fundação Getúlio Vargas). Todos os indicadores da pesquisa melhoraram em novembro sobre o mesmo mês do ano passado.

Em uma escala de 0 a 100, as perspectivas de desempenho da empresa atingiu 59,9 pontos, contra 52 pontos de novembro de 2006. O de desempenho atual subiu de 46,4 para 55, e o de crescimento econômico do país avançou de 37,2 para 60,7 pontos.

Os que mais subiram foram os relativos ao crédito e financiamento --um sinal de que o setor deve se manter capitalizado, usando principalmente o mercado de capitais, para se expandir.

Para o diretor do Departamento de Economia do Sinduscon-SP, Eduardo May Zaidan, o forte ritmo de aberturas de capital do setor --já são 12 que fizeram isso este ano-- deve se reduzir em 2008, e a captação de recursos deve se virar para o lançamento de debêntures (títulos de dívida privada) ou CRIs (Certificados de Recebíveis Imobiliários).

Custos

A questão da mão-de-obra, diz o Sinduscon-SP, não deve atrapalhar o crescimento do setor. Robusti admitiu a falta de empregados qualificados na construção de imóveis para alta renda, o que não ocorre em construções mais "simples".

"Todas as empresas que questionamos sobre mão-de-obra disseram que neste sentido garantem o cumprimento dos cronogramas de obras. Elas mesmas qualificam seus funcionários, seja por iniciativas próprias ou através de parcerias com o Senai", disse Robusti.

Outro ponto de pressão poderia ser o custo dos insumos --especialmente do vergalhão e do cimento. Sobre isso, Robusti prega uma "consciência" tanto ao seu setor como ao de materiais de construção.

"Temos que ter consciência para administrar a situação atual", disse. "No caso da mão-de-obra, por exemplo, não é porque falta mão-de-obra qualificada que vamos contratar funcionário do outro subindo o salário em 40%."

O SindusCon-SP também se disse "fã ardoroso da concorrência", em um sinal de que deve continuar colaborando com o governo federal para eliminar eventuais cartéis. "A nossa representação contra o aço saiu-se vitoriosa", disse Zaidan. O mesmo deve ocorrer com o cartel de cimento, atual alvo do Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica).

Zaidan lembrou que, caso o custo destes materiais no mercado interno suba demais, a construção civil não hesitará em adquirir estes insumos no exterior. "Cidades mais próximas dos portos já começaram a importar aço, cimento, vidro...", enumerou.
Fonte: YGOR SALLES da Folha Online

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