sexta-feira, 21 de dezembro de 2007

Prédios verdes

Construtoras investem em imóveis ecologicamente corretos em razão da forte demanda. Além da redução do impacto ambiental, os imóveis sustentáveis proporcionam muita economia de custos.

Os projetos de empreendimentos ecologicamente corretos já chegaram a Brasília. São os chamados green buildings ou prédios verdes. Essa iniciativa empresarial surgiu para respeitar o meio ambiente e proporcionar meios de se aproveitar ao máximo os recursos naturais disponíveis, minimizando os impactos causados ao meio ambiente. Com o pensamento focado nesses princípios, algumas construtoras já estão com importantes empreendimentos ecologicamente corretos na cidade.Existem hoje cerca de 700 prédios nos Estados Unidos, Inglaterra e Índia que seguem o conceito de empreendimentos sustentáveis. No Brasil, os imóveis ecológicos já estão surgindo em várias capitais, como São Paulo, Rio de Janeiro, Fortaleza, Florianópolis e Brasília.
Para incentivar ainda mais esse tipo de construção, está em andamento a criação de um padrão de construção sustentável para o Brasil por meio da Liderança em Energia e Desenho Ambiental (LEED), um sistema reconhecido mundialmente.“Como em outros países, a forte demanda por produtos ‘verdes’, orientados pelo princípio da sustentabilidade, ajudará as empresas a alcançarem uma economia de escala que reduzirá preços dos materiais e aumentará os lucros. O LEED Brasil leva em consideração as peculiaridades do nosso setor de construção. Os seus temas centrais e sistema de pontuação foram reavaliados para nosso país com o objetivo de estimular a adoção de práticas sustentáveis inovadoras”, explica o arquiteto Eduardo Estrela, diretor da Estrela Arquitetura.
Dentre as principais vantagens na utilização de novos recursos pelas construtoras estão a economia e a redução no impacto ambiental. “Sem dúvida alguma, a maior preocupação disso, além de minimizar o impacto dos recursos naturais não-renováveis, é a economia. Ainda mais porque a engenharia civil é a que mais causa impacto no meio ambiente. A preocupação atinge dois níveis: a construção e a própria locação do projeto – a posição das aberturas dos prédios”, diz Eduardo.
Segundo o arquiteto, essa conscientização não está somente na determinação de itens nos residenciais, mas nos materiais adquiridos pelas empreiteiras para a construção. “Vai desde o projeto à construção civil, adquirindo argamassa com menos agregado mineral, bloco ecológico, racionalização do projeto e instalação, para ocorrer uma redução no custo de manutenção de um edifício”.Os principais itens utilizados nos empreendimentos das construtoras de Brasília, que apostam nos imóveis ecológicos, são aqueles em que a economia de água e energia seja primordial, já que os prédios residenciais são os maiores consumidores. Normalmente, encontra-se o aproveitamento da água das torneiras e chuveiros e água da chuva na descarga do banheiro e na manutenção dos equipamentos de lazer, e a captação da energia solar para aquecer chuveiros e piscinas.
A construtora PaulOOctavio ainda aplicou caixas de descarga com dois estágios, torneiras com sensores e coleta seletiva de lixo. Na Allicerce, há um estudo minucioso sobre a eficácia energética da iluminação e dos elevadores. “Fazemos um estudo, um projeto luminotécnico para os ambientes das áreas comuns a fim de aumentar a eficiência energética. Com isso, gasta-se menos energia e ilumina-se muito mais”, explica Paulo Aristótoles, diretor técnico da Allicerce.
Para os moradores, segundo Eduardo, a economia com esses recursos pode chegar a 30% nas taxas de água e de condomínio. Já as construtoras pagam mais pelos produtos. “O custo chega a variar em 5% a mais porque muitas dessas tecnologias são novas. Isso porque o Brasil já tem opções que antes não existiam aqui. Alguns metais são de 25% a 30% mais caros, mas a tendência do mercado, vindo a consumir mais, com o tempo, é de que o preço venha a ficar igual ou até mesmo menor do que os produtos convencionais”.
Além de todas essas características, as incorporadoras pretendem agregar outros valores aos novos empreendimentos que surgirão. Segundo Ávila, os novos empreendimentos terão componentes ambientalmente responsáveis, de forma a minimizar o impacto ambiental. “Aspectos que possam agregar valor corporativo, criar vantagem competitiva e desenvolvimento sustentável, através de três pilares: social, ambiental e econômico”, explica.
Isso porque o consumidor também deve ficar mais exigente. “Essa mudança deve atingir todo o mundo. Acho que, para empreendimentos de baixa renda, esse é mais do que um diferencial. Hoje em dia, com a competitividade no mercado, as empresas sempre estão buscando diferenciais. Em Belo Horizonte, mais de 60% dos edifícios utilizam painel solar e todos os moradores exigem esse recurso. Temos de fazer com que o consumidor passe a olhar para esses conceitos e prefira esse tipo de empreendimento”, conclui Eduardo.

Casas ecológicas
Não é só nos edifícios residenciais que os recursos ecológicos podem ser utilizados com eficácia. Nas casas, os moradores têm a oportunidade de transformar toda a construção em benefício do meio ambiente. Lixo orgânico e dejetos transformados em adubo, esgoto tratado para alimentar as plantas, telhado vivo com grama, garrafas como tijolos transparentes, coleta de água através de calhas são alguns itens que podem ser encontrados em Brasília, mais precisamente na casa do bioarquiteto e permacultor Sérgio Pamplona. “A casa é uma pesquisa e me identifico com isso. Temos que mudar os conceitos de construção. Algumas construtoras estão buscando alguns caminhos, mas tem de educar as pessoas também”, diz ele.
Sérgio fez uma casa estreita e não aterrou o terreno para fazer a menor movimentação possível de terra, a casa é de madeira eucalipto tratado – material com menor peso e mais eficiente –, a escada na entrada foi feita com pneus e terra e a parede de tijolo, além de um sanitário seco compostável, em que as fezes e papéis são transformados em adubo. “Integro, o máximo possível, as funções da casa com o ambiente externo. Tento reaproveitar tudo aqui. São princípios que podem ser aplicados em todo lugar”, diz ele.
Os moradores que acham impossível a adaptação com algum desses recursos podem começar com muitas plantas ao redor da casa. “Mas o gramado gasta muita água. Tem de investir em plantas frutíferas e do cerrado”, aconselha Sérgio.
Quanto ao valor em relação a uma casa convencional, o bioarquiteto ressalta que, na época da construção, em 1998, economizou cerca de 40%. Hoje, ele supõe que a obra poderia chegar a 30% mais caro, no máximo.
Fonte: Samila Magalhãessaraujo@jornaldacomunidade.com.br

Nenhum comentário: