segunda-feira, 3 de novembro de 2008

Crise afeta procura por minério

A Vale informou nesta sexta-feira que irá reduzir sua produção de minério de ferro em 30 milhões de toneladas métricas anuais. De acordo com a empresa, a medida visa adequar os negócios "ao cenário de desaceleração do crescimento da economia global". Entretanto, a empresa mantém os números de seu plano de investimentos para 2009.

Em nota, a Vale afirma que o aprofundamento da crise financeira internacional, ocorrida em meados de setembro, "aprofundou de maneira substancial seu impacto recessivo sobre a economia global". O processo tem forte efeito negativo sobre a produção do aço, afirma a Vale, "tendo em vista sua relevância para a produção industrial e a construção civil".

A indústria siderúrgica vem anunciando, em diversas regiões do mundo, significativos cortes de produção, estimados em cerca de 20% da produção global de 2007, e com implementação imediata.

"Tendo em vista que a única utilização do minério de ferro é na fabricação do aço, sua demanda sofreu direta e imediatamente o efeito da retração da produção siderúrgica. Ao mesmo tempo, a produção de minério de ferro, realizada em grande escala e que por isso demanda estreita integração mina-ferrovia-porto-transporte marítimo, torna inviável sua destinação para a formação de estoques na expectativa de recuperação da demanda. Não há simplesmente espaço físico disponível para a acumulação de estoques envolvendo dezenas de milhões de toneladas de minério de ferro", aponta a Vale.

Ajustes na produção

Segundo a mineradora, a retração da produção industrial afeta a demanda por outros metais básicos, como níquel e alumínio, o que já resulta em "significativa acumulação de estoques". Dessa forma, a Vale decidiu fazer ajustes de produção em diversas plantas produtivas. "Acreditamos que esta decisão neste momento contribuirá para minimizar riscos de maiores danos no futuro, sobretudo no que diz respeito aos nossos empregados e as comunidades onde possuímos operações", afirma a mineradora.

Para atingir a meta de reduzir a produção de minério de ferro em 30 milhões de toneladas métricas anuais, a Vale decidiu paralisar as atividades de algumas minas a partir deste sábado, 1º de novembro. A empresa afirma que as unidades, localizadas nos Sistema Sul e Sudeste, no estado de Minas Gerais, são produtoras de minérios "de menor qualidade". "Estas unidades apresentam maior custo e produzem minérios de qualidade inferior relativamente aos demais produzidos pela Vale", afirma a nota.

Segundo a empresa, a redução da demanda pode fazer com que esses minérios poderão enfrentem dificuldades de colocação no futuro. "Essa é uma ação que visa adequar a oferta da Vale à situação de mercado, evitando a estocagem desnecessária de produtos. Nossos empregados nessas unidades entrarão em férias coletivas", afirma a mineradora.

Duas plantas de produção de pelotas, responsáveis por 20% da capacidade nominal de produção de pelotas da Vale, farão parada para manutenção a partir deste mês. Além disso, as atividades produtivas de minério de manganês e ferro ligas no Brasil estarão paralisadas em dezembro e janeiro de 2009.

Em suas operações de alumínio, a empresa decidiu reduzir as atividades de sua subsidiária integral Valesul Alumínio S. A. (Valesul), no Rio de Janeiro, que para a Vale opera "com custos relativamente elevados, especialmente em função do alto custo de energia elétrica, insumo extremamente importante para a produção do metal". Devido a obrigações contratuais, a produção da Valesul será limitada a 40% de sua capacidade nominal de 95.000 toneladas métricas anuais.

A companhia também informou que suas atividades com caulim, para revestimento de papel, serão desaceleradas. "A produção de caulim em nossa subsidiária Cadam S. A., localizada no estado Pará, respectivamente, será reduzida em 30% relativamente à sua capacidade nominal de produção", indica a Vale.

Exterior

Na França, a planta de ferro ligas de Dunkerque permanecerá desativada até abril de 2009, e na planta de Mo I Rana, na Noruega, a parada para a reforma de um forno se estenderá até junho de 2009. "Haverá redução de produção de 600.000 toneladas métricas de minério de manganês e 90.000 toneladas métricas de ferro ligas relativamente ao programado para o primeiro semestre de 2009", afirma a Vale, sobre as duas operações européias.

Na Indonésia, a empresa deixa de usar energia de geração termoelétrica, que tem custo mais elevado, o que reduzirá a produção de níquel em 20%, cerca de 17.000 toneladas métricas. "Adicionalmente, a refinaria de níquel em Dalian, na China, se manterá operando a 35% de sua capacidade nominal de 60.000 toneladas métricas anuais", complementa a Vale.

Agnelli: preços estão em "liquidação"

O presidente da Vale, Roger Agnelli, afirmou nesta sexta-feira que a crise econômica global será intensa por alguns meses e que a recuperação deverá vir em 2009. "Alguns acham que (a crise) pode durar dois anos. Eu acho que os próximos três ou quatro meses terão uma intensidade fortíssima, e a recuperação poderá vir no segundo trimestre de 2009", afirmou Agnelli no Rio de Janeiro.

De acordo com o executivo, as férias coletivas concedidas pela empresa poderão durar de 15 a 20 dias. "É um aperto momentâneo. O mercado tende a um rearranjo fortíssimo, então em grandes mercados como a China as siderúrgicas estão cortando a produção. A construção civil caiu e não tem porque continuar a produzir (aço) para deixar no estoque", comentou.

O presidente da Vale afirmou que os valores do minério de ferro no chamado "mercado spot" desabaram. "Os preços no mercado (spot) hoje são preços de liquidação. E você tem vários traders que compraram e estocaram e agora têm que vender por qualquer preço", comentou, ressaltando que a mineradora brasileira não pretende participar desse mercado no momento. "Os preços não são reais. Eles estão vendendo para pagar a conta de ontem", atestou Agnelli.

O executivo repetiu o que afirmou na última semana, quando a mineradora apresentou seus resultados do 3º trimestre. Segundo ele, a Vale vai aproveitar a pausa no ritmo do mercado para trabalhar em manutenção e eliminar alguns gargalos, operações que haviam sido deixadas de lado pelo forte movimento de produção e vendas que reinava no setor há poucos meses. "A gente estava trabalhando com 110% da capacidade. Estávamos trabalhando sem estoque, e agora estamos voltando ao normal", afirmou.

"Algumas minas estão em processo avançado de deterioração. O minério está perdendo a qualidade. Por isso fechamos aquelas minas em que a qualidade é menor", completou Agnelli.

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