A inflação deu um novo salto neste mês, impulsionada agora pela disparada dos preços da mão-de-obra e dos materiais usados na construção civil, além da persistência da forte pressão de alta das cotações dos alimentos tanto no atacado quanto no varejo.
O Índice Geral de Preços-Mercado (IGP-M), apurado pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), atingiu em junho 1,98%, ante elevação de 1,61% em maio e de 0,26% em junho de 2007. Foi a maior marca mensal do indicador em cinco anos, desde fevereiro de 2003, quando havia subido 2,28%, segundo o coordenador de Análises Econômicas da FGV, Salomão Quadros.
Em 12 meses até junho, o IGP-M acumula alta de 13,44%, o maior aumento desde outubro de 2003, que havia sido de 17,34%. A disparada do IGP-M, tanto no mês como no acumulado em 12 meses, é significativa porque esse é o índice mais usado para reajustar vários contratos do setor privado, entre os quais estão os aluguéis e TV por assinatura, por exemplo. É também parâmetro para aumentos de tarifas públicas, entre as quais estão pedágio e energia elétrica. Neste último caso, o IGP-M entra como uma das variáveis.
“O IGP-M acumulado em 12 meses vai continuar subindo no segundo semestre deste ano por questões aritméticas”, afirma Quadros, que arrisca prever uma faixa de variação entre 13% e 15%. Ele observa que o índice mensal mudou de nível. Isso significa que os próximos resultados mensais que vão compor a taxa acumulada em 12 meses daqui para frente serão maiores do que os registrados nos mesmos meses do ano passado. “Em 2007, não se via um IGP-M mensal acima de 0,5%: a média oscilava entre 0,35% e 0,40%. Hoje, a média está acima de 1%.”
Quadros diz que o cenário para os índices mensais não está claro. Ele pondera que o IGP-M é muito sensível aos preços dos produtos primários, por causa da forte presença do Índice de Preços por Atacado (IPA), que pesa 60% no índice. “A tendência é de que as taxas mensais sejam menores por uma questão de resposta da oferta à demanda. Por isso, os preços das commodities devem subir menos, mas isso não significa que vão ficar estáveis.”
Os três componentes do IGP-M, o IPA, o Índice de Preços ao Consumidor (IPC) e o Índice Nacional da Construção Civil (INCC) subiram de maio para junho. Além das pressões habituais do IPA, que atingiu 2,27%, a maior variação desde dezembro de 2007 (2,36%), o grande destaque foi o INCC. O indicador aumentou 2,67% em junho ante 1,10% em maio e atingiu a maior variação desde maio de 2003 (2,98%).
Com participação de apenas um sexto na formação do IGP, o INCC teve contribuição equivalente ao IPA para a aceleração do índice. Quadros diz que combinação de alta dos preços da mão-de-obra (3,75%) com os materiais e serviços (1,73%) fez o indicador mais que dobrar no mês.
"Você tem o cartão da loja?" Essa é a pergunta que o motorista José Geraldo dos Santos, 40 anos, ouve toda vez que vai pagar pela compra de um produto. Considerados ferramenta de fidelização de clientes, os cartões próprios estão presentes em quase todos os setores de venda varejista, como hipermercados, lojas de departamento, material para construção e farmácias. "Todo mundo tem na carteira um, dois ou três cartões de loja. É facilidade para a gente", avalia o motorista.
Comum entre os brasileiros, em 2007, os cartões próprios das lojas - também chamados de private labels - movimentaram R$ 44 bilhões em todo o País. Foram 800 milhões de transações realizadas por 144 milhões de plásticos, quase um por habitante. O último levantamento da Abecs (Associação Brasileira de Empresas de Cartões de Crédito e Serviços) mostra que entre janeiro e abril deste ano, foram emitidos 8 milhões de unidades, totalizando 152 milhões de cartões com a marca de lojas.
O sucesso do cartão está nas facilidades oferecidas no momento da compra, como a pré-aprovação de crédito e a possibilidade de ter até 40 dias para o pagamento à vista e sem juros. A possibilidade de parcelar em maior número de vezes do que com o cartão de crédito ou cheque também estimula o consumo. "Sempre que compro um eletroeletrônico uso o cartão da loja, porque posso pagar em mais vezes sem juros", comenta a aposentada Vilma Ribeiro, de 58 anos.
De olho neste nicho de mercado, a Coop lançou o cartão próprio em julho de 2006. Hoje, a empresa acumula 250 mil cartões em sua base de clientes. A gestora de cartões da Coop, Maria de Lourdes Basso Moreno, afirma que a medida também reduziu o número de operações com cheques, que, até então, representavam 40% dos pagamentos.
Em dois anos, os cartões já respondem por 14% de participação nas vendas e a utilização do cheque caiu para 25%. "Nossa meta é que as compras com nosso private label representem 20% das transações até o fim do ano".
Na avaliação da gestora, a preferência por este meio de pagamento é resultado da conveniência do parcelamento. O hipermercado Carrefour dispõe de cartões próprios desde 1989 e já acumula 8,5 milhões de cartões emitidos. A meta é atingir a marca de 10 milhões em 2009.
Para administrar esse segmento, o grupo, um dos pioneiros na oferta do serviço, criou uma operadora própria. A missão da administradora é definir condições, prazos e demais serviços que serão oferecidos com os cartões.
Segundo o Carrefour, o mercado de private label tem como diferencial a possibilidade de atingir todas as classes sociais.
A perspectiva de fidelização também atraiu outros ramos do comércio varejistas. Entre eles, as lojas de material de construção como a Dicico. A empresa já emitiu mais de 150 mil cartões com a sua marca desde o lançamento do serviço há dois anos. Uma das vantagens oferecidas aos clientes é o parcelamento das compras em até 11 vezes sem juros.
As muitas facilidades dos cartões, no entanto, muitas vezes escondem juros acima da média de mercado.
Pesquisa mensal de juros da Anefac (Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade) apurou que a taxa média de juros para pessoas físicas, em maio, ficou em 7,73% ao mês no cheque especial, 10,39% ao mês no cartão de crédito dos bancos e em 11,20% ao mês nos parcelamentos por financeiras.